A um ano dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos na cidade do Rio de Janeiro, o Ministério da Cultura, a Fundação Nacional de Artes – Funarte e outras entidades vinculadas ao MinC participaram da Maratona Cultural Cidade Olímpica, no Rio de Janeiro, através do Circuito MinC, nos dias 8 e 9 de agosto, sábado e domingo. A Maratona contou com mais de 40 atividades, promovidas pelo Ministério, por meio da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC) e pelas vinculadas.
Foram realizados shows musicais, espetáculos teatrais, circenses e de dança, debates, palestras e atividades físicas. A maior parte das atrações ocorreu no Centro da Cidade, em especial na Cinelândia – onde, no dia 8, a Funarte promoveu várias ações artísticas. A Maratona, realizada em parceria pela Prefeitura do Rio, o Governo do Estado e o Governo Federal, por meio do MinC, prepara a cidade para a agenda cultural dos Jogos Olímpicos de 2016.
Os eventos artísticos com curadoria da Funarte, no sábado (8), incluíram música, circo-teatro, artes visuais, dança e performance. Se apresentaram o Jongo da Serrinha – com presença de Tia Maria do Jongo, que chamou a plateia para dançar na roda; a intervenção do grupo de dança Opavivará! (RJ), Carrossel Breique; o Campeonato Interdrag de Gaymada (MG) – jogos de queimada, protagonizados por drag queens, apresentados de forma artística; o espetáculo gaúcho Não me toque, estou cheia de lágrimas – Sensações de Clarice Lispector, criado e dirigido por Maria Waleska Van Helden (RS), com a bailarina Fabiane Severo e música ao vivo de Helena Beatriz Pedroso; o espetáculo circense O Circo de uma nota sol, com os palhaços musicais do Grupo Off-Sina (RJ), a performance Contornos, do Coletivo PI (SP), em que mulheres criaram uma tela ao vivo, pintada com os próprios corpos; e o show de encerramento da cantora pernambucana Karina Buhr. As etnias indígenas Pataxó e Kayapó, com dezenas de integrantes cada uma, apresentaram várias danças rituais.
A equipe da Funarte esteve presente: além do Presidente da instituição, Francisco Bosco, o Diretor E xecutivo, Reinaldo Verissimo, e Diretores, Coordenadores e Servidores Federais dos diversos centros da Fundação. Participaram também o representante da Representação Regional do MinC no Rio de Janeiro/Espírito Santo, Adair Rocha; representantes da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC) e das outras entidades vinculadas ao ministério: a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).
O Presidente da Funarte, Francisco Bosco, comentou que as olimpíadas são “uma grande embaixada mundial“. Ele argumentou que todos os representantes esportivos de vários países se reúnem para, no fundo, difundir a sua cultura, por meio do esporte. “O que vamos fazer aqui é devolver isso. Assim, os jogos representam uma oportunidade de o Brasil mostrar a sua cultura ao mundo. O que acontece aqui é um evento teste, de uma parceria entre o Município do Rio de Janeiro, o Governo do Estado e o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, para uma avaliação de como será possível mostrar a cultura do Rio, e de todo o Brasil, às pessoas do mundo inteiro, daqui a um ano.
MinC, Funarte e demais vinculadas destacam a diversidade cultural brasileira
Francisco Bosco acrescentou: “Necessariamente, quando se fala em cultura brasileira, se pensa em diversidade. O Brasil é um país continental, complexo, plural e é isso que particularmente o MinC tem a acrescentar às Olimpíadas. Elas são sempre um evento relacionado especificamente a uma cidade. E o Município, é natural expõe mais a cultura carioca. Porém, o Ministério da Cultura trabalha aqui a cultura brasileira. Hoje, por exemplo, teremos índios Kayapó e Pataxó, Jongo da Serrinha –manifestação de matriz africana; a queimada gay, feita por drag queens, em que estão presentes questões de gênero. Portanto, todas as principais questões consideradas pelo MinC como parte do campo cultural, como cidadania, diversidade, gênero, raça e arte, tudo isso está presente aqui hoje. É como um ensaio do que desejamos fazer, de forma ampliada, no contexto dos Jogos Olímpicos.
Funarte traz a tradição popular viva do jongo
Tia Maria do Jongo, 94 anos (vai completar 95), que acompanha essa manifestação desde o início no Rio, liderou a participação do Jongo da Serrinha – tradicional grupo da comunidade de mesmo nome, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Tia Maria declarou: “O Jongo da Serrinha recebeu com muito prazer o convite para participar desse evento na rua. Afinal, o Mestre Darcy e sua família trabalharam muito para que o jongo chegasse a ser conhecido como é hoje” – ela falou de Darcy Monteiro (1932 – 2001), que iniciou e manteve a tradição do jongo na Serrinha. “Estamos segurando isso até hoje”, comentou a artista, nascida em 1920, junto com o com o jongo. “Minha mãe veio de Minas, de Pirapitinga, em 1910. Ela já participava da roda de jongo e eu já nasci naquele ambiente. Gosto muito! Mas, na minha época, criança não dançava jongo. Só as pessoas de idade. Eu só fui dançar depois de casada!”, narrou Tia Maria. Ela lembrou que, em certo momento, sua avó pediu que as crianças entrassem nas rodas, para preservar a tradição, já que está corria o risco de acabar. “E o jongo está aí até hoje”, completou. A pioneira do Jongo da Serrinha confirmou a importância da visibilidade internacional do jongo na programação das Olimpíadas, lembrando que Mestre Darcy também se preocupou em levar a tradição a vários países do mundo: “Até ao Japão o jongo já é conhecido. Por todo lugar do mundo ele o levava. Tanto é que recebemos vários convites – o último foi para ir à França. “O Jongo da Serrinha é muito grande, com 25 pessoas no palco”, destacou.
Indígenas: a cultura dos primeiros brasileiros se faz presente
Representante da etnia Pataxó no evento, Arassari Pataxó disse: “É importante nós indígenas sabermos que ainda somos atendidos por instituições que querem um Brasil melhor”. Segundo Arassari, não há como comemorar eventos internacionais no país sem a presença do índio. “Porque nós somos donos dessa terra – os primeiros brasileiros. Por isso, seria uma injustiça realizar essas programações sem lembrar das etnias indígenas. Por isso agradecemos à Funarte – um desses órgãos que pensaram no que os índios gostariam de apresentar no Rio; e fizeram com que saíssemos das florestas, das reservas, e viéssemos até aqui. É muito gratificante para nós dividirmos essa verdadeira cultura brasileira milenar com a sociedade carioca e mundial”. Arassari acrescentou que a visibilidade das Olimpíadas para o público mundial será importante para a divulgação das causas indígenas: “Estamos em manifesto e movimento. Queremos que nos vejam e pretendemos mostrar nossa realidade. Isso é muito importante para uma luta dos povos indígenas mais digna. Desejamos ser respeitados e estamos aqui para garantir nossos direitos. Só assim vamos desenvolver uma política de qualidade, com muito respeito, direcionada aos nativos deste País”.
Amauri Kayapó, cacique da Aldeia Moxkarakô (Alto Xingu, Pará), declarou: “Quero agradecer em primeiro lugar a Deus por estarmos aqui. Parabenizo e agradeço também aos organizadores, ao Francisco Bosco, da Funarte, e a todos os outros, por isso. Nunca tivemos uma oportunidade de vir ao Rio participar de um encontro como esse. Para mim, isso é um novo caminho, uma nova visão, que vocês têm, de incluir os índios. Mesmo as aldeias sendo muito longe, pelo menos recebemos apoio para vir e mostrar nossas culturas. Pudemos apresentar um pouco da nossa; e mostrar que o povo Kayapó ainda existe. Vamos conversar, ter diálogo, para, num segundo passo, participarmos da programação das Olimpíadas. Se todos levarem em consideração os índios nas próximas etapas dessa agenda cultural, será ótimo. Não fizemos parte do projeto da Copa do Mundo. Mas queremos fazer uma apresentação para os Jogos Olímpicos. Pelo que eu vejo aqui, seria muito bonito se cada etnia puder se apresentar”. Amauri considera que iniciativas como essa podem ajudar a aumentar a visibilidade do índio no Brasil. “Só o fato de vir para cá, participar e até de simplesmente poder vender artesanato representam apoio. Nossa comunidade se animou com nossa vinda!”, concluiu.
Palavras de um pajé
O pajé Bepnhyrti Kayapó, mais conhecido como Kaikware, também da Aldeia Moxkarakô, procurou refletir sobre os aspectos mais profundos do que representam as manifestações de cultura indígenas, como um todo: “Demonstramos aqui uma tradição, transmitida por nossos bisavós. Nós, os pajés, ainda atendemos com muita força à saúde dos nossos povos – melhor do que vocês, não índios. Afinal, nossos remédios vieram primeiro. E todas as aldeias têm um pajé. Isso não vai acabar. Continuam os pajés, dentro de cada grupo, mantendo esse conhecimento vivos, para o futuro. Cada aldeia tem treinamento de novos pajés; tem seus pajés próprios; tem pajé profissional; tem raizeiro [especialista na prescrição e colheita de raízes]”. O líder espiritual considera que agendas como a Maratona Cultural Olímpica podem ajudar na difusão da verdadeira cultura indígena brasileira para todo o mundo. “Aqui estou vendo pessoas que querem conhecer a tradição do nosso povo. E trouxemos uma manifestação própria dos Kayapó, para mostrar que ela continua. Assim fazemos na aldeia – como nossos bisavós; e assim outros vão conhecer como funciona isso”, refletiu Bepnhyrti – Kaikware.
Fonte: Ministério da Cultura (MINC)